domingo, 15 de fevereiro de 2009

E o amanhã? O que é para ti?


E se a vida acabasse “já”? Apenas com um aviso, destemido e cruel, de que teríamos o agora, precipitado e temido..?

Há dias, perdida num dos desvaneios da vida, pensei no fim, no quanto nós, por vezes, pouco somos, no nada que muitas vezes transparecemos e resultamos. Então pensei.. E se simplesmente não houvesse mais amanhã? Não houvesse mais a possibilidade de adiarmos as decisões, adiarmos o momento e muitas das vezes, adiarmos a vida, acabando por viver o que o outro vive, vendo e experimentando o que os outros já nem lembram e menosprezam, aquilo que já não lhes traz mais surpresa ou excitação? E se não pudessemos sequer pensar em coisas tão banais como o “o que vestir amanhã”, se vamos à aula das 8h30 da manhã ou se vamos simplesmente ficar a dormir ou na preguiça o resto do dia, se comemos o gelado de morango ou de limão ou se nos decidimos pela contagem das calorias e desistimos do gelado....? E se não houver mais em que pensar?

Pensei com quem gostaria de partilhar os últimos momentos... Sorri.. Há tantas pessoas que me fazem feliz, que me fazem sorrir, que me fazem sentir tão especial.
Lembrei-me da minha família, do quão importantes são e da falta que me fariam, do vazio que provocariam na minha vida se não mais dela fizessem. Dói só de imaginar, só se colocar essa hipótese. Senti o coração retrair-se..
Recordei os amigos.. As pessoas que eu tanto admiro e amo, as pessoas que me fazem crescer e enriquecem todos os dias, que não se esquecem de mim e tornam-me orgulhosa pela amizade que nutrimos.
Realmente não consigo imaginar-me sem as “pessoas da minha vida”. Não ao ponto de dizer que a minha vida não teria mais sentido. Mas sei que teria, indubitavelmente, menos valor, saberia a menos, muito menos..
Pensei nas pessoas que ocasionalmente encontro na rua, do “bom dia” rotineiro, da troca de olhares, da agitação diária, do frenesim constante que nos assalta a cada dia por sabermos que amanhã será outro dia, que ainda que vulneráveis ao mistério do amanhã, a cada descoberta, sabemos que há pessoas que estarão sempre presentes, serão sempre recordadas e que sempre farão parte de nós, pela presença ou pela recordação.

Pensei no que já vivi.. A infância e o carinho, a adolescência e o querer viver mais.. Lembrei-me dos colegas de turma... Do quanto fui feliz com muitos deles. A verdade é que ainda hoje falamos, partilhamos experiências, sorrisos, frustrações e sonhos. Não podem ser indiferentes! Não posso deixá-los na indiferença..
E a faculdade? Questionei-me acerca do que tinham sido para mim estes anos de vida académica. Não tive dúvidas de que mais do que 4 anos a estudar, tinham sido 4 anos de muito tudo.. A verdade é que não se resume só ao facto de estar na faculdade, na faculdade pela qual fiz exames nacionais para ingressar, a faculdade pela qual a entrada resultou numa nota, num muito pouco.. Mas agora, representa tão mais.. As noites perdidas na conversa, a “ida para os copos” com os amigos, as festas de economia e académicas, a queima, as pessoas novas que entraram na minha vida, as lições de vida que adquirimos, por erro ou aptência, as aventuras de uma noite e as que duram uma vida inteira, os dias menos bons e o que foi feito para os contornar, os melhores momentos e a forma como são recordados. Fico com a certeza de que muito ficará por contar. Mas o mais importante é pensar que não o vivi sozinha, ainda que muitas das vezes vagueasse pela ilusão, pelo platónico.
Depois veio Erasmus, França por ironia. Mais do que o conflito de mentalidades lutou-se pela substância e a complementaridade de culturas que faziam parte do novo dia-a-dia, das novas atitudes que teríamos para com o outro e para connosco. Vi e experimentei, ri sozinha e acompanhada, chorei algumas vezes, apanhei algumas tosgas ao ponto de ser levada a braços, levei para casa e deitei outros. Há coisas que não conhecem barreiras, uma delas é o lado humano, a compaixão, mesmo quando subsistem no senso-comum. Tive saudades do nosso Portugal, da minha família e amigos, da comida, do quão pacata mas ao mesmo tempo tão feliz e reconfortante pode ser a nossa vida junto das coisas que mais prazer nos dão. Tive saudades de estudar em português, da minha mantinha, das fotos do meu quarto, de olhar da minha janela ao acordar, da taça dos cereais, inclusivé de ver novelas. Mas para compensar conheci pessoas maravilhosas, vivi muito e aprendi ainda mais. Fiz algumas viagens, que não ficarão como algo visitado, mas como cenários experimentados e que condicionaram aquilo a que eu hoje chamo de vida. Sou uma pessoa completamente diferente.. Disso tenho certeza!
Vi muito youtube, nomeadamente “a liga dos últimos”, que sempre propiciaram grandes gargalhadas, “grey’s anatomy”, para combatar a nostalgia das tardes passadas a consumir séries. Não faltaram os m&m’s, ainda que na altura muito mais caros.
Aconteceu muita coisa, alarguei horizontes, passei da consciência ao pisar do risco, passei da negação ao experimentar, identifico a loucura, o viver a 1000...
Sei que vou ter sempre saudades...

Pensei que ainda há muita coisa que gostava de fazer, e que muito disto acontecesse já amanhã. Mas de que adianta isto? Se não houver amanhã? É o termos presente de que ainda temos uma vida pela frente que não nos deixa desistir, que nos conforta e traz felicidade?
Não acredito que seja assim, ou pelo menos não queria que o fosse.. Mas não é assim que, vezes repetidas, pensamos? Não é assim que deixamos que o amanhã conduza o presente?

Então pensei que quero viver ainda muita coisa hoje!

1 comentário:

  1. Palavras fantásticas... tão verdadeiras e conscientes! Adorei... Beijinho Pris

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